domingo, 9 de julho de 2017

Psicóloga explica como a violência psicológica contra a mulher é confundida com atitudes grosseiras.

Violência psicológica também é crime.
Imagem: Revista Bem Mais Mulher.
Um assunto muito debatido e recorrente no cotidiano de muitas mulheres é a violência doméstica. Agressões feitas pelo marido, namorado ou companheiro, passam algumas vezes despercebidas pela vítima que acha uma justificativa para tais atitudes dele. Geralmente, as mulheres só tomam como agressão, a lesão corporal. Porém, é importante salientar, que não é apenas uma agressão física que se configura violência. Atitudes de cunho psicológico podem causar danos irreparáveis na parceira.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência psicológica é toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Incluindo, ameaças, humilhações, chantagens, cobranças de comportamento, discriminação, exploração, crítica pelo desempenho sexual, impedir que ela utilize seu próprio dinheiro, dentre outras situações.

A Psicóloga Dra. Fabiana Eufrosino, explica que a violência psicológica é o barulho silencioso que pode destruir o presente e o futuro de um ser humano, quando não é ressignificado na sua identidade emocional. “Dentre as diversas modalidades da violência (física, sexual, verbal, preconceituosa e bullyng, entre outras), a psicológica é a mais subjetiva, portanto a mais difícil de ser identificada e aceita” comenta.

Sua frequência tem crescido nos últimos anos, devido ao conjunto de fatores surgidos com a nova concepção de cultura emocional, acrescido dos motivos sócio-históricos já conhecidos. A consequência psicológica pode ser devastadora. “É necessário levar em consideração três pontos básicos: Frequência, intensidade e contexto. São fundamentais para dimensionar a dispersão do dano emocional”, explica.

Uma em cada três brasileiras sofreu algum tipo de agressão em 2016. O dado é da pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil” realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ainda de acordo com a pesquisa, durante o ano passado, 503 mulheres maiores de 16 anos foram vítimas de agressões físicas por hora e 52% delas não denunciaram a violência sofrida.

Em Pernambuco, os números também foram alarmantes. 350 mulheres foram assassinadas no Estado em 2016.  Só no mês de janeiro de 2017 foram 33 vítimas de mortes violentas, contra 24 no mesmo período do ano passado. Em relação aos estupros, a Secretaria de Defesa Social registrou 148 casos em janeiro deste ano. Uma média de 5 por dia. Mas nada supera os números da violência doméstica: 2.743 denúncias em Janeiro. Quando se contabiliza todas as ocorrências de 2016, são 31.081 vítimas.

Denuncie: Ligue 180.
Imagem: Internet
“Os índices desta violência contra a mulher são maiores quando comparado à violência contra os homens, mas existem estudos que apontam seu crescimento. Uma das dificuldades de identificação da mesma é a aceitação da pessoa que está recebendo esta violência compreender que se trata de uma violência e não de questões relacionadas a temperamento ou “seu jeito de ser””, conta a psicóloga.

PERFIL

É necessário levar em consideração a frequência que a pessoa comete a agressão. Pode tratar-se de um ato de impulsividade em situações de estresse intenso, como em circunstâncias de vida ou morte, por exemplo, ou tratar-se de um modelo de comportamento que se repete como reação às ocasiões experimentadas.

“No segundo caso, é possível traçar um perfil psicológico. Normalmente pode estar associado a memórias negativas marcantes da figura feminina na vida do agressor. A raiva precisa ser liberada, porém de maneira inadequada, a mesma é libertada através da agressão psicológica, que pode progredir para a violência física”, explica.

Dentre algumas características de um agressor, pode-se notar: Egocentrismo: O agressor como centro 
de tudo. Todas as decisões desde as mais rotineiras, ele é o pivô. O que for melhor para ele. Assim, a companheira passa a orbitar em torno das necessidades do seu companheiro; Temperamento difícil: Acessos de raiva, ameaças, cara feia, brigas, etc. Responsabiliza o outro, não assume responsabilidades sobre o ocorrido. Violento e agressivo: Pode apresentar-se em um primeiro momento, sedutor. Após a conquista, aos poucos demonstra sua personalidade violenta e agressora.

Segundo Dra.Fabiana, é importante a compreensão de que possíveis promessas feitas após o ato de agressão e pedidos de perdão serão dissolvidas na memória do agressor em pouco tempo. A sua motivação não é o arrependimento, mas a necessidade de perpetuar a dependência da vítima nele, e se para isto é preciso “interpretar” arrependimento, ele o faz. Seus atos tendem a se potencializar com o tempo e não minimizar.

TRANSTORNO INTERMITENTE EXPLOSIVO

Este transtorno pode estar presente sem que a pessoa saiba que o porta. A American Psychiatric Association define o TEI em alguns critérios como explosões de raiva características, classificadas em “leves” ou “severas”. As explosões leves são ameaças, xingamentos, ofensas, gestos obscenos, ataque de objetos e agressões físicas sem lesão corporal. Elas precisam ocorrer com uma frequência média de duas vezes na semana por um período mínimo de três meses. Já as explosões mais severas, são destruição de propriedade/patrimônio e ataques físicos com lesão corporal e precisam acontecer ao menos três episódios dentro do período de um ano. A magnitude de agressividade expressa durante as explosões recorrentes é grosseiramente desproporcional em relação à provocação ou a quaisquer estressores psicossociais precipitantes. As explosões de agressividade recorrentes causam sofrimento acentuado ao indivíduo ou prejuízo no funcionamento profissional ou interpessoal ou estão associadas a consequências financeiras ou legais.

A idade cronológica é de pelo menos seis anos (ou nível de desenvolvimento equivalente).

Em um relacionamento amoroso, as características presentes são inconstância de comportamento, irritabilidade, situações básicas de estresse que geram atitudes desproporcionais com a circunstância em questão. É preciso observar a frequência, intensidade e contexto dos sintomas.

Outro problema que pode acometer as pessoas é a bipolaridade, caracterizada pela oscilação de fases maníacas e fases depressivas, em níveis diferenciados. O quanto mais cedo for diagnosticado, melhor para o paciente. Há possibilidade dos sintomas se intensificarem com o tempo, quando não cuidado. 
Saiba identificar o Transtorno Explosivo Intermitente (TEI)
Imagem: Diário da Região.

A base do tratamento é medicamentosa associada ao processo psicoterapêutico.
Quando a pessoa tem algum problema, trauma, durante a infância, pode ter reflexo na vida adulta. 

“Nossa vida adulta é um terreno de colheita da nossa infância e adolescência. Somos hoje o que foi semeado ontem em nós. Por isso, necessitamos tanto olhar para dentro de nós e nos conhecermos. A violência psicológica é um bom exemplo” comenta Dra. Fabiana.

PENA

A Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006, Lei Maria da Penha, foi promulgada com o objetivo manifesto de “coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher” (art. 1º). Segundo o artigo 5º da Constituição Federal de 88, configura violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe causa morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.

“Quanto à pena aplicada ao agressor condenado, esta irá variar de acordo com as ações cometidas. Por exemplo, na dosimetria da pena, o Juiz irá aplicar uma pena mais grave ao crime de ameaça quando este for cometido contra a mulher no âmbito familiar ou doméstico ou dentro de uma relação íntima de afeto”, explica a advogada Dra. Dâmaris de Alencar, OAB/PE nº 44302.


A psicóloga Dra. Fabiana Eufrosino finaliza com um conselho “É necessário ressaltar que só possuímos uma chance de viver, mas podemos ter uma segunda chance no amor, quando há desvínculo da morte emocional”.


Por Anne Coifman

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