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Violência psicológica também é crime. Imagem: Revista Bem Mais Mulher. |
Um assunto muito
debatido e recorrente no cotidiano de muitas mulheres é a violência doméstica.
Agressões feitas pelo marido, namorado ou companheiro, passam algumas vezes
despercebidas pela vítima que acha uma justificativa para tais atitudes dele.
Geralmente, as mulheres só tomam como agressão, a lesão corporal. Porém, é
importante salientar, que não é apenas uma agressão física que se configura
violência. Atitudes de cunho psicológico podem causar danos irreparáveis na
parceira.
De acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), a violência psicológica é toda ação ou omissão que
causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da
pessoa. Incluindo, ameaças, humilhações, chantagens, cobranças de
comportamento, discriminação, exploração, crítica pelo desempenho sexual,
impedir que ela utilize seu próprio dinheiro, dentre outras situações.
A Psicóloga Dra.
Fabiana Eufrosino, explica que a violência psicológica é o barulho silencioso
que pode destruir o presente e o futuro de um ser humano, quando não é
ressignificado na sua identidade emocional. “Dentre as diversas modalidades da
violência (física, sexual, verbal, preconceituosa e bullyng, entre outras), a
psicológica é a mais subjetiva, portanto a mais difícil de ser identificada e
aceita” comenta.
Sua frequência tem
crescido nos últimos anos, devido ao conjunto de fatores surgidos com a nova
concepção de cultura emocional, acrescido dos motivos sócio-históricos já
conhecidos. A consequência psicológica pode ser devastadora. “É necessário
levar em consideração três pontos básicos: Frequência, intensidade e contexto.
São fundamentais para dimensionar a dispersão do dano emocional”, explica.
Uma em cada três
brasileiras sofreu algum tipo de agressão em 2016. O dado é da pesquisa “Visível
e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil” realizada pelo Datafolha a
pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ainda de acordo com a
pesquisa, durante o ano passado, 503 mulheres maiores de 16 anos foram vítimas
de agressões físicas por hora e 52% delas não denunciaram a violência sofrida.
Em Pernambuco, os
números também foram alarmantes. 350 mulheres foram assassinadas no Estado em
2016. Só no mês de janeiro de 2017 foram
33 vítimas de mortes violentas, contra 24 no mesmo período do ano passado. Em
relação aos estupros, a Secretaria de Defesa Social registrou 148 casos em
janeiro deste ano. Uma média de 5 por dia. Mas nada supera os números da
violência doméstica: 2.743 denúncias em Janeiro. Quando se contabiliza todas as
ocorrências de 2016, são 31.081 vítimas.
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Denuncie: Ligue 180. Imagem: Internet |
“Os índices desta
violência contra a mulher são maiores quando comparado à violência contra os
homens, mas existem estudos que apontam seu crescimento. Uma das dificuldades
de identificação da mesma é a aceitação da pessoa que está recebendo esta
violência compreender que se trata de uma violência e não de questões
relacionadas a temperamento ou “seu jeito de ser””, conta a psicóloga.
PERFIL
É necessário levar em
consideração a frequência que a pessoa comete a agressão. Pode tratar-se de um
ato de impulsividade em situações de estresse intenso, como em circunstâncias
de vida ou morte, por exemplo, ou tratar-se de um modelo de comportamento que
se repete como reação às ocasiões experimentadas.
“No segundo caso, é possível
traçar um perfil psicológico. Normalmente pode estar associado a memórias
negativas marcantes da figura feminina na vida do agressor. A raiva precisa ser
liberada, porém de maneira inadequada, a mesma é libertada através da agressão
psicológica, que pode progredir para a violência física”, explica.
Dentre algumas
características de um agressor, pode-se notar: Egocentrismo: O agressor como
centro
de tudo. Todas as decisões desde as mais rotineiras, ele é o pivô. O que
for melhor para ele. Assim, a companheira passa a orbitar em torno das
necessidades do seu companheiro; Temperamento difícil: Acessos de raiva,
ameaças, cara feia, brigas, etc. Responsabiliza o outro, não assume
responsabilidades sobre o ocorrido. Violento e agressivo: Pode apresentar-se em
um primeiro momento, sedutor. Após a conquista, aos poucos demonstra sua
personalidade violenta e agressora.
Segundo Dra.Fabiana, é
importante a compreensão de que possíveis promessas feitas após o ato de
agressão e pedidos de perdão serão dissolvidas na memória do agressor em pouco
tempo. A sua motivação não é o arrependimento, mas a necessidade de perpetuar a
dependência da vítima nele, e se para isto é preciso “interpretar”
arrependimento, ele o faz. Seus atos tendem a se potencializar com o tempo e
não minimizar.
TRANSTORNO INTERMITENTE
EXPLOSIVO
Este transtorno pode
estar presente sem que a pessoa saiba que o porta. A American Psychiatric Association define o TEI em alguns critérios
como explosões de raiva características, classificadas em “leves” ou “severas”.
As explosões leves são ameaças, xingamentos, ofensas, gestos obscenos, ataque
de objetos e agressões físicas sem lesão corporal. Elas precisam ocorrer com
uma frequência média de duas vezes na semana por um período mínimo de três
meses. Já as explosões mais severas, são destruição de propriedade/patrimônio e
ataques físicos com lesão corporal e precisam acontecer ao menos três episódios
dentro do período de um ano. A magnitude de agressividade expressa durante as
explosões recorrentes é grosseiramente desproporcional em relação à provocação
ou a quaisquer estressores psicossociais precipitantes. As explosões de
agressividade recorrentes causam sofrimento acentuado ao indivíduo ou prejuízo
no funcionamento profissional ou interpessoal ou estão associadas a
consequências financeiras ou legais.
A idade cronológica é
de pelo menos seis anos (ou nível de desenvolvimento equivalente).
Em um relacionamento
amoroso, as características presentes são inconstância de comportamento,
irritabilidade, situações básicas de estresse que geram atitudes desproporcionais
com a circunstância em questão. É preciso observar a frequência, intensidade e
contexto dos sintomas.
Outro problema que pode
acometer as pessoas é a bipolaridade, caracterizada pela oscilação de fases
maníacas e fases depressivas, em níveis diferenciados. O quanto mais cedo for
diagnosticado, melhor para o paciente. Há possibilidade dos sintomas se
intensificarem com o tempo, quando não cuidado.
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Saiba identificar o Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) Imagem: Diário da Região. |
A base do tratamento é
medicamentosa associada ao processo psicoterapêutico.
Quando a pessoa tem
algum problema, trauma, durante a infância, pode ter reflexo na vida adulta.
“Nossa vida adulta é um terreno de colheita da nossa infância e adolescência.
Somos hoje o que foi semeado ontem em nós. Por isso, necessitamos tanto olhar
para dentro de nós e nos conhecermos. A violência psicológica é um bom exemplo”
comenta Dra. Fabiana.
PENA
A Lei 11.340 de 07 de
agosto de 2006, Lei Maria da Penha, foi promulgada com o objetivo manifesto de
“coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher” (art. 1º).
Segundo o artigo 5º da Constituição Federal de 88, configura violência
doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe causa morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial.
“Quanto à pena aplicada
ao agressor condenado, esta irá variar de acordo com as ações cometidas. Por
exemplo, na dosimetria da pena, o Juiz irá aplicar uma pena mais grave ao crime
de ameaça quando este for cometido contra a mulher no âmbito familiar ou
doméstico ou dentro de uma relação íntima de afeto”, explica a advogada Dra.
Dâmaris de Alencar, OAB/PE nº 44302.
A psicóloga Dra. Fabiana
Eufrosino finaliza com um conselho “É necessário ressaltar que só possuímos uma
chance de viver, mas podemos ter uma segunda chance no amor, quando há desvínculo da morte emocional”.
Por Anne Coifman